Acompanhamento terapêutico com pacientes maníacos
reconstruções teóricas baseadas na prática clínica
Resumo
Este estudo tem como objetivo esclarecer as peculiaridades do Acompanhamento Terapêutico em casos de crise maníaca. Com base no relato de dois casos clínicos, procuramos demonstrar a variedade e a gravidade do quadro maníaco. Este quadro é um dos mais contundentes exemplos da necessidade de que a intervenção psicológica esteja atrelada ao tratamento médico. Além disso, indicamos o Acompanhamento Terapêutico (AT) como a intervenção psicológica possível na crise maníaca. Em nossa experiência clínica, observamos que não há respostas de pacientes maníacos a uma intervenção psicoterapêutica. O Acompanhamento Terapêutico é indicado por suas características diferenciais como: utilização do espaço e do tempo cotidianos do sujeito; estabelecimento de relações mais próximas entre terapeuta e paciente, e entre terapeuta e familiares. Nossa hipótese central é de que o AT na crise maníaca deva ser exercido de uma forma diferente daquela que a teoria propõe. O indivíduo maníaco não responde a um tratamento ancorado em ideias básicas de respeito à singularidade e estímulo ao potencial criativo do sujeito. O terapeuta tem de limitar, cercear, conter a inadequação de comportamentos provocada pela alteração do humor. Esse procedimento será não apenas salutar, mas também poderá salvar, em casos mais graves, a vida do paciente e de pessoas ao seu redor. Numa crise maníaca, a pessoa pode interpretar os fatos de forma correta e compreender limites sociais, mas não consegue se conter, mesmo sabendo de sua inadequação. A Mania não amplia as possibilidades existenciais do indivíduo, apenas provoca o seu confinamento em um lugar de sujeito esquisito e quase sempre, insuportável. O AT nesses casos deve objetivar a remissão da crise antes de se orientar por questões sociais e políticas.
Palavras-chave
Acompanhamento Terapêutico; Mania; Transtorno bipolar
Abstract
The aim of this study is to clarify the peculiarities concerning the therapeutic counseling during manic episodes. Based on two clinical case reports, we aim to show the variety and severity of the manic phase. This disorder shows that it is highly recommended that the psychological intervention be used in conjunction with medication. Furthermore, we think that the Therapeutic Counseling is the possible psychological intervention during a manic episode. In our clinical experience, we noticed that manic patients do not respond to psychotherapeutic interventions. The Therapeutic Counseling is recommended due to its special features; i.e., the fact that it enables the therapist to share the individual’s space and time and to establish a closer rapport with the patient and his/her family. Our main hypothesis is that during the manic episode, the Therapeutic Counseling should be different than what is proposed by theory. The manic person does not respond to a treatment based on ideas preaching the benefits of respecting the individual’s own singularities and stimulating his/her creative potential. The therapist has to limit and control the inadequacy of behavior caused by mood disturbances. Not only is this procedure beneficial in more severe cases, but it can also help save the patient’s life and also the people around him/her. During a manic episode, the individual may correctly interpret the facts around him/her, as well as understand the social limits, but he/she cannot control himself/herself even when he/she knows that the behavior is inadequate. Mania does not enlarge the individual’s existential possibilities; it only categorizes the individual as a strange person, and usually an unbearable one. The Therapeutic Counseling should aim at the remission of the manic phase before dealing with social and political issues.
Keywords
Therapeutic Counseling; Mania; Bipolar disorder
Psychiatry On Line Brazil, v. 14, nº 7, 2009
Disponível em: http://www.polbr.med.br/ano09/art0709.php