Trânsitos da clínica do acompanhamento terapêutico (at)
da via histórica à cotidiana
Resumo
Este trabalho retrata as diferentes “vias”, histórica e cotidiana, habitadas pela pesquisadora ao se propor a investigar as transformações da clínica do AT – Acompanhamento Terapêutico desde o seu surgimento, para pensar o “lugar” ocupado pela mesma no universo das práticas psi. Nesse itinerário trabalhou-se com a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, sendo que o instrumento utilizado na última foi a entrevista aberta. Através da constituição histórica do desenvolvimento dessa clínica e dos relatos dos ats – acompanhantes terapêuticos a respeito de suas práticas, emergiram temas que foram trabalhados a partir do método interpretativo psicanalítico. Alicerçando-se na concepção deste método, colocou-se em exercício a “escuta” dos sentidos advindos dos campos relacionais habitados pela pesquisadora nas diferentes vias. Das relações do at com outras instâncias sociais: paciente, famílias, instituições, outros profissionais, alguns sentidos se colocaram em movimento. Observou-se que, em meio ao fazer quotidiano do AT, cuja clínica preconiza a ideia de interdisciplinaridade, de uma interação entre diferentes profissionais sem que se estabeleça uma relação hierarquizada, se faz presente um fazer clínico atravessado pela hierarquização e demarcação de saberes por parte dos especialistas. Diferente da ética predominantemente enfatizada na clínica do AT, que prima por uma postura nômade que investe experimentalmente em teorias e práticas, o fazer dos ats e a literatura disponível sobre o mesmo apresentam-se habitadas por diferentes posturas que parecem veicular outras éticas, como a da tutela, da interlocução e da reabilitação psicossocial. A clínica do AT, tendo sido constituída em meio aos saberes psi, psiquiatria, psicanálise, psicologia, por um lado veicula em seu fazer diferentes modos de subjetivação, herdando diferentes valores ou éticas que atravessam tais fazeres, reproduzindo-os; por outro, informa e reivindica a necessidade de se construir um fazer clínico comprometido com a complexidade e o dinamismo a que tais saberes estão submetidos. Esta investigação acaba por reconhecer a necessidade da clínica do AT encontrar estratégias que deem passagem para a invenção de saberes-fazeres, reconciliando-a com as características “fronteiriça” e “itinerante” que a identificam.
Palavras-chave
Psicologia; Acompanhamento terapêutico; Clínica
Abstract
This research has aimed to investigate the place/position occupied by the Therapeutical Accompaniment clinic concerning the psycho-social practices. Field and bibliography research were carried out, having used open interview as instrument and interpretation psychoanalysis as methodology. The results to this work show that the practice of Therapeutical Accompaniment clinic is accompanied by hierarchical relationships and specialized knowledge.This practice is based not only on an erratic and experimental ethic, but also on one of tutelage, inter-dialogue and social reheabilitation. Because this clinic began in the midst of the psycho practices (psychiatry, psychoanalysis, psychology) it reproduces its values and ethics as well as allows reflections on the necessity of building-up practices that take into consideration its complexity and dynamism.In conclusion, Therapeutical Accompaniment needs strategies that allow the invention/creation of new knowledge and practice to consider its erratic and experimental; qualities by which it is strongly identified with.
Keywords
Psychology; Therapeutical accompaniment; Clinic
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de psicologia, 2006
Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/17178/1/CAlvarengaDISSPRT.pdf